domingo, 21 de novembro de 2010

Núbia Santana, Anthony Quinn, Wolfgang Amadeus Mozart

Fora entrevistar a atriz e cineasta Núbia Santana no apartamento dela, mas o porteiro me disse que Núbia saíra no dia anterior e não retornara. Estaria na França, para o XI Festival de Cinema Brasileiro de Paris? Seu documentário em longa metragem Pra ficar de boa retrata o cotidiano de violência e abandono de crianças e adolescentes que vivem nas ruas de Brasília e de internos do Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje). “Esses jovens têm em comum uma vida marcada por abusos dentro e fora de casa, drogas, crimes, guerras e morte. Entretanto essa cruel realidade não impede que eles sonhem com um futuro melhor” – diz a sinopse do filme.

Era um dia azul como devem ser os sábados. Azul escuro, com a intensidade do rio das tardes de julho, na Amazônia. Eram 18 horas, se esvaindo no silêncio da grande cidade, nas luzes que sucedem o sol agonizando, nas pessoas que passam caminhando dentro da noite.

Núbia, que foi Miss, é dona de uma beleza ainda mais impressionante, a de uma leoa que enfrentou a falta de perspectiva do agreste pernambucano, com a missão de transformar o mundo em tardes azuis. Este ano, pela sexta vez, ela fez o papel de Maria na representação da Via Sacra de Taguatinga. “Ela tem tanta coisa a fazer que certamente não pôde me aguardar. Quem sabe me dará a entrevista na volta de Paris?” – disse para mim mesmo.

Do prédio de Núbia fui caminhando até o restaurante Raízes da Amazônia. O bairro do Sudoeste é um dos metros quadrados mais caros de Brasília. É agradável caminhar, ao anoitecer, num bairro urbanizado, ouvindo os murmúrios da noite se sobrepondo aos derradeiros sons da tarde que desaparece sob as luzes noturnas. O Raízes da Amazônia é especializado na cozinha paraense, a mais saborosa do mundo. Pedi tacacá. “O tucupi é novo, chegou hoje” – informaram-me. Degustei o tacacá e pedi uma unha de caranguejo. Ia também tomar sorvete de tapioca, da Cairu, mas me senti cheio. Paguei e fui apanhar o ônibus. A principal rua comercial do Sudoeste é um dos locais de Brasília onde a noite cintila, prenhe de luzes, cheiros e mulheres bonitas. Aos poucos, o Sudoeste foi ficando para trás.

Desci no Setor Hoteleiro Sul. Gosto de grandes hotéis e me agrada até mesmo passar diante deles e vislumbrar a vida que pulsa nos seus átrios e cafés, a alegria de viajores, o requinte dos serviços, a beleza e o mistério das mulheres que só encontramos nos grandes aeroportos. Saí diante do Venâncio 2000, atravessei a frente do shopping e entrei no Pátio Brasil, um shopping vizinho, e me dirigi à livraria Leitura. Comprei Zorba, o grego, de Michael Cacoyannis, com Anthony Quinn, a belíssima Irene Papas e Lila Kedrova, Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo papel da doce Bubulina. Comprei também Amadeus, de Milus Forman.

Em casa, encontrei duas das mulheres mais importantes da minha vida - minha esposa, Josiane, e minha filha, Iasmim. Escolhemos Zorba. Anthony Quinn dançando a música de Mikos Theodorakis é antológico, e o romance de Nikos Kazantzakis é desses livros que se movem para sempre. Quanto a Amadeus, é outra crônica.


Brasília, 22 de abril de 2009

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