domingo, 12 de dezembro de 2010

Dança do Sabre

A Feira do Guará estava fervilhando naquela manhã de sábado. Ele foi à peixaria e comprou um tucunaré de três quilos, capturado no lago de Tucuruí, e cinco quilos de pirarucu fresco. Depois comprou duas barras de açaí grosso, recém-chegado de Belém, farinha de tapioca, farinha d'água, tapioca molhada e castanha-do-pará. Parou na banca próxima à da dona Zenaide.

Encarapitado no banquinho, o canudo entre os lábios e os olhos grudados na descascadora de coco, sugava a água deliciosa da Bahia. Ela devia medir 1,70 metro e pesar 75 quilos. Sua pele mulata era clara e sedosa, e seus olhos, grandes e doces. Os seios fartos, as nádegas volumosas, a cintura de saúva, as pernas bem torneadas, eram, na verdade, parte do espetáculo.

A mulata tinha as mãos de pianista e suas unhas eram pintadas de rosa. No dedo anelar esquerdo exibia grossa coleira de ouro. Segurava o coco com a mão esquerda e com a direita manejava um facão afiado como navalha. Lembrava Uma Thurman em Kill Bill. Em segundos o coco ficava no ponto para ser sugado. A descascadora de coco manejava o facão como uma prestidigitadora.

Ela dançava a Dança do Sabre, de Aram Khachaturian, quando ele viu o facão muito perto do seu rosto. Piscou os olhos e a viu a um palmo de distância. Fora apanhar um coco, os seios quase encostados do rosto dele. Ela se virou e se abaixou novamente, para arrumar alguma coisa, e ele percorreu seus quadris, numa viagem vertiginosa. Ela voltou à Dança de Aram Khachaturian.

O amistoso esfregar de mão feminina nas costas o acordou.

- Vamos! – disse sua mulher, que estivera comprando roupa.

- Sim, vamos! – ele disse, e a seguiu. Sua mulher era ainda mais bonita do que a jovem senhora da Dança do Sabre. “Vou ouvir Khathaturian quando chegar em casa, antes de tomar açaí” – pensou.

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