sábado, 4 de dezembro de 2010

Fragmentos da noite

Era aquele momento em que a tarde agoniza, morria como um rio que se afoga no mar da noite, encanto levando ao encanto. Mulheres lindas cruzavam, em todas as direções, o Pátio Brasil, ponte sobre o mar. Atravessei o shopping e me dirigi para o Naoum Plaza, no Setor Hoteleiro Sul. Entrei no hotel e fui diretamente para o café, e me encontrar com um amigo que viaja frequentemente para Portugal, Angola, Moçambique e a Guiné-Bissau. Queria saber de notícias quentes e de primeira mão sobre a Guiné-Bissau, que andava pegando fogo no gume dos facões, a fim de escrever uma matéria para o site Brasil CPLP. O café estava quase vazio, não fosse por uma mulher sentada ao balcão.

Sentei-me numa das confortáveis cadeiras de palhinha. Veio o garçom e pedi café com leite, e me pus a esperar meu amigo. De onde eu estava dava para ver, através da vidraça escura, pessoas passando na alameda defronte. Degustando o café com leite, entretinha-me a observar o passa-passa quando a moça, ao balcão, falou algo com o garçom. Sua foz era rica em nuanças. Era um português carioca, mas com acentuação francesa. Trajava leve vestido de seda, decotado, os ombros à mostra. Sua pele era maravilhosa, de um branco rosado na tênue claridade do ambiente. Seus cabelos eram ruivos, e naturais, e seus ombros lembravam uma estátua de marfim rosa, esculpida na Renascença. De olhos bem abertos sonhei com o mundo das ruivas, e com o segredo da porta de entrada.

Ela bebericava algo. Seria suco? Tinha as mãos pequenas, com dedos curtos e unhas também curtas, em harmonia com seu tipo baixo, e na fronteira da carência e da voluptuosidade. Ajeitei-me na cadeira para poder ver seus tornozelos. Tinha as pernas sem batata, bem torneadas; percorrendo-as, me perdi na barra do seu vestido. De repente ela se voltou para mim. Seus olhos se iluminaram com o mais maravilhoso verde que já vi, e no entanto eram também azuis.

Acho que sonhei, e, ao acordar, ela só deixara um rastro de romance, diluindo-se, lentamente como a chegada da noite. O telefone celular tocou no bolso da minha calça. Meu amigo me pediu para ir ao quarto dele. Queria bebericar um Lacrima Cristi que trouxera especialmente para isso, antes de irmos jantar.

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