sábado, 18 de fevereiro de 2012

Iasmim, 22 anos




As mãos que te embalam, o anjo que zela pelo teu triunfo
Sou o que te guarda desde o nascimento.
Agora, o sol aquece o rubi azul em que desabrochas
Como latejar da música de Mozart
Um trovejar silencioso
O atrito da Terra no espaço
O voo das crianças
O esplendor da luz:
Iasmim!

Brasília, 18 de fevereiro de 2012

Minha filha, Iasmim, completa 22 anos, neste 22 de fevereiro. Escrevi para ela o poema acima, o azul mais profundo que encontrei, e que tirei do meu coração, numa prece. Pedi ao Criador para arrumar todas as manhãs da minha filha, pintar suas tardes de perfume e adornar suas noites com os maiores diamantes do mundo, e espargir, à sua passagem, riso de crianças e de flores. Sua mãe, Josiane, ensinou-a a demonstrar gratidão aos nossos antepassados estendendo as mãos para os que tateiam no escuro, e a ensinamos a ser justa e valente, e a jamais sentir medo. E, no entanto, é ela minha luz!

Ano passado, meu presente também foi azul. Sou escritor, e esculpir o azul com palavras é o que sei fazer. Assim, dou sempre a ela, no seu aniversário, no Natal, todos os dias, meu coração.

Iasmim, meu amor!

Comecei a sentir tua presença logo nos primeiros dias após tua concepção, pois Josiane, tua mãe, começou a ficar ainda mais bonita, a desabrochar como rosa grávida. Eu sentia no ar tua presença como a luz na alma, a música de Mozart nunca pulsou tão divina e o perfume da vida me extasiava. Eras tu que estavas vindo, para alegrar, para sempre, minha vida.

Logo o ventre da tua mãe começou a crescer. Eu o beijava e tu tentavas, lá do teu mundo uterino, tocar em mim. Os meses passavam e eu, agora, tinha duas namoradas. E queria também ficar juntinho do ventre da tua mãe, e líamos contos dos gênios da literatura infantil para ti. Abraçado à tua mãe, eu te sentia; e me sentia Deus. Já não criava somente personagens de ficção, mas estava prestes a ver o triunfo de uma criação perfeita.

Josiane ficou esplêndida, um santuário que eu beijava ajoelhado. Uma noite, 22 de fevereiro de 1990, o rio da tarde acabara de desaguar no Ocidente quando tu anunciaste que querias nascer. Joanira, um anjo que te acompanha desde sempre, levou tua mãe e eu ao Hospital Regional da Asa Norte, e, às 23h40, os jardins do mundo se iluminaram, pois nasceu um jasmim.

Na manhã do dia seguinte, fui te conhecer. Quando te vi, filha, senti uma emoção tão azul que vertia rubis, diante da luz, intensa, redentora, que tu emanas. Sabíamos que somos um só, tua mãe, tu e eu. Pedi a Deus, meu Pai, que arrumasse a manhã para ti, a manhã da tua vida. Ele, então, me muniu de amor, luz, sabedoria, gentileza, para que eu cuidasse de ti.

E tu cresceste como um botão que abre imperceptivelmente as pétalas ao sol, como um poema cada vez mais azul. Eu lia histórias para ti, até um dia que tu mesma começaste a ler, e não paraste mais. O riso da tua infância, que guardo no relicário do meu coração, é minha perene alegria. 

Completas 21 anos neste 22 de fevereiro. Todos os anos eu te dou o mesmo presente, que sou eu. Pertenço à tua mãe, de quem tu fazes parte, e sou teu também, porque és parte de mim, por isso te dou meu coração, que é o que me resta, pois nas histórias que te contei já te dei o mundo, e todos os jardins, e todas as rosas, e os girassóis de Van Gogh, e todo o perfume, e a música de Mozart.

E eu serei sempre um ser híbrido de anjo e leão, empunhando uma espada de luz, para garantir que teu caminho esteja seguro.

Teu!

Ray Cunha


3 comentários:

  1. MARAVILHOSOO :) QUE EMOÇÃO! QUE PAPAI:)

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  2. Palavras criadoras do pai mais amado do mundo. O meu! Muito Obrigada! <3

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  3. Doces palavras do pai mais amado do mundo! O meu! Muito Obrigada, só tenho a agradecer! <3

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