quarta-feira, 18 de abril de 2012

Poesia em estado bruto


Ouço Espanha, de Chabrier, e sinto cheiro de mulher nua - ostra com Antarctica enevoada, às 9 horas, em julho, no ar saturado de mulheres lindas e suadas, de Salinas.
Tu só precisas me lamber com teus olhos verdes como rubis para eu sentir o acme
Tu precisas apenas sorrir e tocar nos meus finos lábios para que eu possa morrer como as rosas, que não morrem nunca, porque são imortais na sua explosiva beleza de um eterno segundo.
Vou presentear ao Facebook minha presa, minha amante, que imobilizei pelos cabelos, beijei-a na boca, fi-la gritar de prazer: ela é a própria noite.
A grande sedutora é como um café noturno, cheio de mulheres misteriosas de tão lindas e que dizem oi quando passo.
Ouço Caravan, de Duke Ellington, ouço-a tanto que fico cheirando a púbis ruivo, que inunda meu olfato, meu paladar, meu cérebro.
Degusto Antarctica de Manaus com Jorge Tufic no Nathalia, beijo os lábios carnudos e mordo o pescoço da Mara, lambo o rosto da Tharcilla, que implora pela minha pegada.
Como Isnard Lima Filho, oferto rosas para a madrugada,
Sonho com leões, ao amanhecer, na praia, com a mulher amada, de quem extraí gemidos e agora ela dorme tranquila sob minha guarda.
Igual a Picasso, com seus olhos negros, nonagenários, sou como pássaro, que nunca envelhece, mesmo que lembre maracujá de gaveta, porque nasci com asas invisíveis aos olhos, e que a somente algumas mulheres é dado ver a maravilha dessas engrenagens que se equilibram no éter como caças, e deixam uma trilha branca no azul.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Ray Cunha autografa O Casulo Exposto e Trópico Úmido – Três Contos Amazônicos na Bienal Brasil do Livro e da Leitura de Brasília



Ray Cunha e O Casulo Exposto (Foto: Ricardo Marques - 2009)
BRASÍLIA, 17 de abril de 2012 – Estarei autografando dois livros: Ocasulo exposto (LGE Editora, Brasília, 2008, 153 páginas, R$ 28) e TrópicoÚmido - Três contos amazônicos (edição do autor, Brasília, 2000, 116 páginas, R$ 20), na Bienal Brasil do Livro e da Leitura de Brasília, na Esplanada dos Ministérios, Pavilhão D, estande 67, da Livraria Cope Espaço Cultural, defronte ao estande da Livraria Arco-Íris, sábado 21 e domingo 22, entre as 17 e 19 horas.

A Bienal Brasil do Livro e da Leitura de Brasília é o ponto alto da programação de aniversário da capital da República, que completa 52 anos, dia 21 de abril. Começou dia 14 e irá até 23 de abril, sempre das 9 às 22 horas, numa estrutura coberta de 14 mil metros quadrados, dividida em quatro pavilhões, com 157 expositores, sessões de autógrafos, exibição de peças e filmes, seminários, debates, palestras e shows de música popular brasileira, tudo com entrada franca. Os promotores do evento aguardam meio milhão de visitantes. 

Estarão presentes 120 editoras e autores de todos os continentes. Nomes consagrados autografarão seus trabalhos, como o Nobel nigeriano Wole Soyinka, autor de O Leão e a Joia; o norte-americano Daniel Polansky, autor da trilogia Cidade das Sombras; o britânico Richard Bourne, autor da biografia Lula do Brasil; e o argentino Mempo Giardinelli, de Luna Caliente. Haverá também debates com escritores como a norte-americana Alice Walker, de A Cor Púrpura; e o chileno Antonio Skármeta, de O Carteiro e o Poeta. Entre os autores brasileiros convidados estão Milton Hatoum, Cristovão Tezza e Marçal Aquino.


domingo, 8 de abril de 2012

História maldita


Não sei quando terminarás, ou se terminarás
Sei que começaste ao abandono de uma tarde estrangeira
Quando a esperança quebrou-se como cristal fino
A este medo insinuante.
Começaste sem saída.
Tentarei manter-me vivo e lúcido
Enquanto escrevo esta história curta e angustiante
Tentarei não pensar no abandono
A ansiedade e a angústia que me tomam
Talvez me desesperem
É pena eu ter coração e ser fraco diante de certas cenas.
Às vezes preciso chorar porque o mundo me magoa.
Essas são coisas que acrescentamos num poema
Corrigido e circunspecto.
Enfim, tudo é relativo.
Relativo a este caso estrangeiro.
A eventualidade é um conto fantástico
Dentro da retórica de um judeu-argentino.
Sou um a mais na caravana em desespero
Não tenho mais o sentido das coisas
Dentro de um âmbito de soluções.
Sou um pontito escuro
No porto de chegada.
Ilusão estremunhada
Cansaço num caminho curto.

Do livro Sob o céu nas nuvens, 94 páginas, publicado em 1980, em Belém do Pará, edição do autor, esgotado. Os poemas desse livro foram escritos nos anos 1970. História maldita, por exemplo, foi trabalhado em Buenos Aires, concluído em 9 de outubro de 1974. Eu tinha 20 anos e estava na estrada, como milhões de jovens, em busca de si mesmos. Encerrei essa fase, que iniciara em 1972, aos 17 anos, em 1982, aos 26 anos. Lendo Ernest Hemingway, descobri que aonde quer que vamos, levamos sempre nós mesmos. Assim, Papa me ensinou que o que estamos vendo como problema está em nós mesmos, e nunca nos outros, ou no lugar onde vivemos. Lembro-me que em 1972 estive na casa do teatrólogo Paschoal Carlos Magno, em Santa Tereza, no Rio de Janeiro. Ele foi uma espécie de guru de jovens artistas. E eu “fugia” de Macapá. Disse-lhe que queria ir para Paris. Ele me perguntou por quê.

- Para escrever um romance – respondi-lhe.

- E por que você não o escreve aqui? – indagou.

Não soube responder, e escrevi o romance A Casa Amarela (Cejup, Belém do Pará, 2005, 158 páginas), 33 anos depois, em Brasília. Ele é Macapá, que guardo no meu coração, como um raio de sol, ao amanhecer, transformando gotas de orvalho numa rosa vermelha em imenso rubi cravejado de diamantes.