segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Fogo no coração

RAY CUNHA

Como deve o acupunturista proceder nos casos das paixões avassaladoras?
Haverá agulha tão comprida, e fina, que atinja a alma?
Ou prescindiriam, os danados, de cura?
Pois os pacientes desse mal, ou bênção, sobrevivem nas trevas e na luz
São cinza e asas
E seus corações atingem a velocidade dos despenhadeiros
Do mergulho no maremoto
Do olho do furacão
Do desespero
Não será tamanho sentimento, em si mesmo, o triunfo?
Voo concedido a poucos?
Eterno porque agora?
Creio que descobri um mal – ou bênção?
Que a acupuntura não sana
Pois como apagar a luz com luz
Como ouvir o som da Terra no espaço
Se o coração não se inflama?

Ensaio sobre o equilíbrio

RAY CUNHA

O equilíbrio está sempre à beira do abismo
Do fio da navalha
Da perda
Do berro
Do nada
É o cataclismo do primeiro beijo
Das rosas nuas o vermelho
Dos jasmineiros o acme
Do poema o abismo
Do mar, a loucura
A danação das tempestades
O voo alucinante dos astros
A velocidade da luz
Os delírios mais divinos de Beethoven
É a noite, quando assassinos me perseguem
Derroto-os e durmo com a princesa.
Equilibrar-se é estar sempre a um passo da harmonia
E do desespero

O corpo é reflexo da mente

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 16 DE OUTUBRO DE 2017 – A língua da sra. K, 75 anos, apresenta profunda fissura longitudinal no centro, é vermelha e seca, e a ponta é rubra; foi-lhe extirpado um cancro maligno no seio direito; sua região cervical é dura como pau; é insone; sofre de constipação intestinal; é controladora; e ingere 15 medicamentos por dia. Seu pulso do coração é quase contínuo, uma oitava acima; o do fígado lembra o som de uma corda de violão muito esticada; e não há pulsação no rim.

Na Medicina Tradicional Chinesa (MTC), a anamnese, do grego ana, trazer de novo, e mnesis, memória, é fundamental para que se chegue ao diagnóstico, daí porque a conversa entre terapeuta e paciente deve ser estimulada enquanto durar o tratamento. A anamnese me lembra um desses filmes policiais em que o investigador entre numa casa, à noite, em busca de uma pista que o conduza à elucidação do crime. Não liga nenhuma lâmpada para não chamar atenção, principalmente do criminoso, e assim utiliza sua lanterna de bolso. De modo que somente lá pela décima sessão é que encontrei a pista que estava procurando. A sra. K foi traída pelo marido e seu filho caçula matou-se aos 21 anos.

Todas as doenças, sem exceção, surgem na mente e se refletem no corpo. O Universo funciona mais ou menos assim: existe a Lei, a que chamamos também de Deus. A Lei ordena tudo o que há no Universo, nada escapa à sua ação. Ela não é boa nem má, é a Lei. O Homem, que é mente, materializa-se na Terra em um processo de evolução infinito, nasce com livre arbítrio e é também criador. Nessa caminhada, o Homem cria ilusões, sempre na mente; são ilusões porque não se harmonizam com a Lei, razão pela qual o destino final dessas ilusões é desintegrarem-se.

Tudo o que se passa na mente se reflete no corpo, por meio dos sentidos, de modo que as ilusões também se refletem no corpo, que, por sua vez, se submete às leis físicas. A matéria é mutável e finita, e quando é atingida pela ilusão mental, degenera-se precocemente; são as doenças.

No caso da sra. K, ela vive no passado, juntamente ao seu filho caçula; mas o passado não existe mais, o que faz com que a sra. K se transforme em zumbi. Os zumbis são mentes deslocadas do agora, e a eternidade é agora. Os corpos dos zumbis apresentam-se deteriorados, ou doentes, porque estão deslocadas do agora. Sempre que tentamos nos situar no passado ou no futuro surge o estado de tensão, o que no caso da sra. K manifestou-se como cancro no seio favorito do filho, quando era bebê.

A sra. K nutre ódio pelo marido, que trocou-a por uma mulher muito mais jovem do que ela. O ódio, mais 15 medicamentos que toma por dia, incendiou seu fígado e as chamas subiram até o coração.

Ela tem mais dois filhos, casados, e mesmo assim tenta controlá-los, além da sua governanta; tudo tem que ser do jeito da sra. K. Pessoas controladoras contraem aterosclerose e seus pescoço e ombros ficam rijos como madeira, e acabam pegando fogo também.

Tratei a senhora com acupuntura, fitoterapia, alimentação energética e tuiná, a massagem terapêutica chinesa. Ela melhorava alguns dias, mas os sintomas voltavam. Quando identifiquei a origem da angústia da sra. K, expliquei-lhe como funcionam o mundo material e a mente. Que a vida material é a manifestação da energia pré-celestial, situada num xacra entre os rins, e que ela vinha jogando pelo ralo essa energia, ou seja, a própria vida, ao incendiar seu próprio corpo.

A solução – disse-lhe – consistia em três agulhas: uma delas é a prece, a conexão com o orbe espiritual, onde seu filho a procura, sedento do seu amor. A outra agulha é o perdão, pois só com o perdão ela voltará a amar novamente o pai dos seus filhos, e compreenderá que ele não é propriedade dela. A terceira agulha é a alegria, que alimenta a vida.

Somente os pacientes têm o poder de curar suas mazelas. O terapeuta é apenas instrumento da Lei.

A liberdade se equilibra no lombo da luz

RAY CUNHA

BRASÍLIA, 16 DE OUTUBRO DE 2017 – Mestres como Jesus Cristo, Massaharu Taniguchi, Alan Kardec, deixaram claro que o ser humano é espírito, um dos corpos vibracionais que compõem a mente, a sede do amor e da sabedoria e o mais próximo do mundo perfeito. Espíritos baixos, grosseiros, encarnam para evoluir e alcançar o nirvana, ou paraíso, o mundo perfeito.

A dimensão da carne é uma prisão. Começa com a força de gravidade, que pressiona tudo para o chão. Se não fizermos esforço para viver, a deterioração da matéria se acelera e o tempo encurta. Além disso, a matéria é constantemente agredida, de modo que a sensação de liberdade, atrás da qual todo mundo anda, requer disciplina o tempo todo.

Entre o espírito e o corpo carnal há dois corpos vibracionais, mais sutis do que a matéria, que também é energia, porém numa vibração tão baixa que se condensa. O corpo astral, que liga o espírito ao corpo etéreo, é a sede das emoções. Por exemplo: se alguém se deixa ofender e fica com ressentimento, isso gerará uma inflamação no corpo astral, que se refletirá no corpo etéreo, sede dos sentidos.

O corpo humano é uma máquina biológica, administrada pelo cérebro, que, auxiliado pelo sistema endocrinológico, comanda o corpo por meio de hormônios, enzimas e uma infinidade de substâncias químicas que aos poucos os cientistas vão descobrindo. Por trás do cérebro existe a mente, que são os corpos sutis.

O mais perto da matéria é o corpo etéreo, sede dos sentidos. Tanto que o corpo material não sente dor; a dor é sentida no corpo etéreo. Hipnose profunda é quando o hipnotizador afasta o corpo etéreo do corpo carnal, que se torna, então, zumbi.

Pois bem, o intumescimento no corpo astral provocado pelo ressentimento atinge o corpo etéreo, surgindo, daí, desequilíbrio entre as energias básicas yin e yang do corpo carnal, o que pode se configurar, por exemplo, em pressão alta, arritmia cardíaca, constipação intestinal, insônia, autopunição – como doenças autoimunes e fibromialgia –, cancro etc. Ódio, então, destrói o paciente e tudo ao redor dele.

Médiuns que servem como cavalo para espíritos que baixam nas mesas brancas atrás de orientação, se não se fortalecerem com orações que os conectem a Deus tornam-se depositórios de todo tipo de doença, porque os espíritos doentes que se manifestam nos médiuns os influenciam. Ao morrerem, espíritos baixos continuam com os corpos etéreo e astral até evoluírem.

É por isso que a atmosfera dos prostíbulos é sombria, porque espíritos que estão no limbo querem continuar sentindo os prazeres do sexo por meio de pessoas que se dedicam desesperadamente à libertinagem.

Nascer é uma bênção. Há uma infinidade de espíritos querendo nascer; alguns já encarnaram várias vezes, mas não evoluíram. A vida material serve para evoluirmos; esta é a missão básica de cada qual. Nascemos com um tanque de energia celestial, ou, como também dizemos na Medicina Tradicional Chinesa: energia pré-natal ou ancestral, uma espécie de mensagem genética que proporciona a formação do feto e o desenvolvimento do corpo, garantindo ainda o funcionamento dos órgãos, especialmente o coração.

Há três combustíveis pós-celestiais: oxigênio, alimentos e alegria. Sem oxigênio, duramos poucos minutos; sem comida, alguns dias; e sem alegria, morremos sempre, a vida biológica pode durar décadas, mas morre-se a cada instante. E quando surge o desequilíbrio entre yin e yang, que é a doença, o corpo não consegue mais tirar, nem conservar, energia dos alimentos, e então lança mão da energia celestial, encurtando a vida.

Assim, viver aqui na Terra é um exercício de disciplina. O caminho é cheio de armadilhas, apego, prazeres que se materializam como miragens. Mas a liberdade pode nos conduzir para a expansão da consciência. Liberdade é tão-somente a prática do amor, do perdão, da oração. Só assim podemos montar a luz.