sábado, 30 de dezembro de 2017

Na Boca do Jacaré-Açu fecha trilogia de contos ambientados em Belém, Manaus e Macapá


O livro de contos NA BOCA DO JACARÉ-AÇU – A AMAZÔNIA COMO ELA É (Ler Editora/Libri Editorial, Brasília, 2013, 153 páginas) fecha a trilogia que começou com A GRANDE FARRA (edição do autor, Brasília, 1992, esgotado) e prosseguiu com TRÓPICO ÚMIDO – TRÊS CONTOS AMAZÔNICOS (edição do autor, Brasília, 2000, 116 páginas), e que tem como espinha dorsal as metrópoles da Hileia. NA BOCA DO JACARÉ reúne 14 histórias curtas, ambientadas em Belém, a quem o autor dedica o livro: “Cidades são como mulheres. Este livro é para Santa Maria de Belém do Grão Pará”.

O LUGAR ERRADO  Sobre o livro, conta Ray Cunha: “A convite do jornalista Walmir Botelho, então diretor de redação de O Liberal, de Belém do Pará, trabalhei no jornal dos Maiorana durante os anos de 1996 e 1997, ao fim dos quais retornei a Brasília. Naquela ocasião, travei amizade com o editor da Cejup, Gengis Freire, que publicou a novela A Caça. Mas Gengis queria um romance, e eu tinha acabado de escrever O Lugar Errado, thriller psicológico que se passa em Belém e no Marajó. Entreguei, assim, ao editor, os originais. Gengis mandou digitá-los, fazer a revisão gramatical e publicou-o.

“De volta a Brasília, submeti O Lugar Errado ao jornalista e escritor Maurício Mello Júnior, que apresenta o programa Leituras, da TV Senado, e escreve resenhas para o jornal O Rascunho, de Curitiba. Ele me disse que algumas personagens se confundiam, pois falavam do mesmo jeito, e que o livro sofria de adiposidade. A mesma coisa me disse o escritor, mestre em Teoria Literária pela Universidade de Brasília e revisor Marcelo Larroyed.

“Com efeito, entregara os originais a Gengis Freire sem sequer fazer os ajustes necessários. Só então resolvi promover os cortes, e percebi, então, que havia duas novelas se entrecruzando. Cortei até o osso, seccionando toda a parte do encoxador, e vi que a história de Agostinho Castro, atormentado porque seu pai estuprou a tia pintora de Agostinho, e que morreu dias depois sem dar um pio, constituía-se, por si só, em uma novela, enxuta, condutora do verdadeiro argumento de O Lugar Errado.

“Dei à novela o título de NA BOCA DO JACARÉ e a publiquei juntamente com alguns contos, todos ambientados em Belém, fechando, com esse livro, a trilogia que começou com A GRANDE FARRA, seguido de TRÓPICO ÚMIDO. NA BOCA DO JACARÉ-AÇU – A AMAZÔNIA COMO ELA É, como intitulei o volume, foi autografado também em Macapá, quando doei para a Biblioteca Pública Elcy Lacerda alguns exemplares do livro.

“O blog Amapá, minha amada terra!!! publicou uma resenha escandalizada (pareceu-me escrita por estudante do Bartolomeia, escola de freiras para moças em Macapá) sobre O Lugar Errado, que retirei da minha bibliografia, e NA BOCA DO JACARÉ, chamando a atenção para a parte do encoxador. Com efeito, a depravação, nessa parte, a que foi extirpada, é digna do Marquês de Sade. Pois bem, nos meus cortes, restaram apenas a ossatura, músculos e nervos; o resultado foi NA BOCA DO JACARÉ”.

A AMAZÔNIA DE RAY CUNHA  Sobre o trabalho do escritor macapaense, especialmente NA BOCA DO JACARÉ, diz Marcelo Larroyed, mestre em Teoria Literária pela Universidade de Brasília: “O fim da tarde, imobilizada por nuvens imóveis, e pesada como chumbo, lembrava um tumor...” A médica pressionou o botão, e a máquina me deslizou para dentro do seu túnel branco, onde eu ficaria imóvel por vinte minutos, enquanto me escaneavam o crânio. Então, decidi por escrever esta resenha.

“O fim da tarde, imobilizada por nuvens imóveis, e pesada como chumbo, lembrava um tumor...” Assim começa o primeiro conto de Na Boca do Jacaré-Açu, uma tomografia da Amazônia, que tem como resultado imagens em verde tisnadas de coloração humana.

“Não é bem o túnel tomográfico: parecemos presos na boca verde do jacaré simbólico, mas a imensidão da floresta e seu universo esplendoroso e ilimitado em fauna e flora são pequenos para conter as paixões e dramas do ser humano.

“Na máquina de tomografia, ficamos encapsulados no túnel branco. Vistos do espaço, na Terra somos prisioneiros gravitacionais da esfera azul. Mas a Amazônia de Ray Cunha é o Inferno Verde.

“É certo, não há o coaxar repetitivo da máquina-mata, com seus sapos-bois roufenhos e metálicos. Nem a natureza esplêndida e glamourosa da National Geografic, “macumba pra turista”. Mas eis que a chuva vem e volta nas páginas amazônicas de Ray. É o Trópico Úmido chorando, suando, gozando sobre, pelos e com os humanos que se intrometem, abruptos, na obra.

“Os personagens dessa outra dimensão, amazônica, surgem familiarizados conosco e ao mesmo tempo estranhos, desafiadores, ridículos ou exóticos. Pois não estão ali o atormentado Agostinho, o dr. Magalhães e seus impagáveis mugidos, a saborosa Frênia, lânguida desde a pia batismal? E a mitológica fauna humana: um menino com “olhinhos de tubarão e nariz de porco”; a mulher “com aspecto de lobo”; outra mulher “que cacareja”? Humanos, demasiado... Contra o pano verde do cenário vegetal vemos a selvageria urbana do tráfico de meninas intercalada com dramas freudianos/shakesperianos, e de súbito, mas suavemente, nos acaricia a narrativa de pequenos flertes e sutis amores.

“Para entrar na Amazônia e no mundo fantástico de Ray Cunha há que se acolher seus símbolos mais caros: as zínias coloridas, as rosas colombianas, o  perfume inconfundível do Chanel nº 5, a tapioquinha e Cerpinha enevoada, o Ver-O-Peso. O autor planta esses elementos exóticos no Inferno Verde, e nele planta o próprio homem. Como se fosse difícil para o humano ser amazônico. Ou se forçasse a escolha: humano ou amazônico? O ser humano viceja, mas há algo errado, desconexo ou incompleto.

"A Amazônia não é “o” mundo todo, mas “um” mundo todo. Um outro mundo. O planeta Amazônia que não é azul como a Terra, mas verde, terrivelmente verde, ou branco tal qual o medo de um tumor. Com sua natureza fascinante e temível, e seus habitantes inconclusos, os contos têm entre si uma espécie de amarração oculta, um cipoal encoberto pela floresta de palavras, e onde se esconde o temível jacaré-açu.

Na juventude, o escritor Ray foi pugilista amador. Certamente não era o mão de marreta. Vejo em suas luvas ágeis o estilo da pena do escritor: jabs repetitivos, incansáveis – não há nocaute, mas desgaste. Uma sequência contínua, bem encaixada, pode minar o adversário e lhe impor a derrota silenciosa. O tumor. O jacaré-açu”.

PING-PONG – Larroyed também produziu uma entrevista com Ray Cunha:

Como e por que você escolheu o título NA BOCA DO JACARÉ-AÇU?

Trata-se da história que dá título ao livro. Jacaré-açu é o grande réptil amazônico, que atinge mais de 6 metros de comprimento e meia tonelada de peso. No caso do conto, que se passa em Belém e na ilha de Marajó, representa a simbologia da morte. A personagem central da novela, o arqueólogo Agostinho Castro, é filho de um homem forte, dominador e suicida, Castro e Castro, que o leva à boca do jacaré-açu.

Em que período você escreveu os contos que compõem a obra?

Todos eles foram produzidos nos anos 1980/1990. Alguns já foram publicados; outros, são inéditos.

Os contos têm alguma ligação, um fio temático que os una e justifique, formando uma obra única?

Sim. Todas as histórias são ambientadas em Belém do Pará, a quem eu dedico o livro; algumas delas têm sequências no Ver-O-Peso, a maior feira livre da Ibero-América. O conto que dá título ao livro, Na Boca do Jacaré-Açu, como já disse, é também ambientado no Marajó, a maior ilha flúvio-marítima do planeta, situada no que eu chamo Mundo das Águas, especialmente o Amazonas, o maior rio do planeta, e que despeja no Atlântico pelo menos 200 mil metros cúbicos de água por segundo.

Quais escritores influenciaram sua obra e em quê?

Os escritores que me influenciaram – alguns ainda me influenciam – são muitos, mas há os mais importantes, os que abrem a porta para outras dimensões, como Antoine de Saint-Exupéry, Ernest Hemingway, Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa, William Faulkner, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Euclides da Cunha, e, no caso da Amazônia, Benedicto Monteiro, o mago de Verde Vagomundo. Todos eles me ensinaram, e continuam ensinando, coisas simples, mas fundamentais, como, por exemplo, enxergar uma rosa nua, extrair gemidos femininos das palavras, montar a luz, mergulhar como leão de asas, ver com o coração e garimpar rubis verdes.

Seus livros têm elementos autobiográficos? Quais?

Tudo o que fazemos é autobiográfico, o que não quer dizer que os livros que escrevemos são autobiográficos. Trata-se de um paradoxo, estou ciente disso. O que fazemos é autobiográfico porque o fazemos; contudo, a realidade carnal não existe, porque é limitada por altura, largura, espessura, gravidade e tempo. Só existe, permanentemente, a realidade absoluta, Deus. Assim, as autobiografias são romanticamente heroicas e jornalismo, às vezes, é mentira pura. Nesse aspecto, quando se fala em ficção verdadeira é porque o autor deu à luz. Deixando a filosofia de lado, há muitos elementos autobiográficos no meu trabalho, especialmente cidades, como Belém, Macapá, Manaus e Rio de Janeiro.

E os personagens dos contos? Foram baseados em pessoas conhecidas ou são criações da imaginação do escritor Ray Cunha?

Há personagens que nascem prontas; outras, são retalhos de várias pessoas; algumas, ainda, apresentam-se em sonhos e por meio de sons e visões.

Explique uma de suas marcas como escritor: a repetição, em diferentes obras, de elementos emblemáticos, como Chanel 5 e a personagem Frênia.

Tu bem o disseste: emblemáticos. Chanel 5 simboliza, para mim, sensualidade; o Caribe; noites tórridas, encharcadas de jasmim, em Macapá; maresia; o azul, tão azul que sangra; o perfume das virgens ruivas; rosas nuas; o primeiro beijo; colostro; negra em vestido de seda; mulher na chuva; espilantol. Daí porque são elementos recorrentes no meu trabalho de criação. Mais de uma pessoa querida já me alertou para o que lhes parece falta de criatividade. Mas certos elementos na escrita de um autor são como fases na produção de um pintor: passam. Quanto à Frênia, trata-se de um nome feminino danado de sensual; remete-me a frêmito, frenesi, frenética. Frênia soa como a uma certa noite em que nos dedicamos a mergulhar o mais fundo possível na mulher mais sensual do mundo; ela é lindíssima porque a desejamos, e está na nossa frente, nua.

Atenção livreiros, peçam NA BOCA DO JACARÉ-AÇU – A AMAZÔNIA COMO ELA É ao editor pelos e-mails:



Ou pelo telefone: (55-61) 3362-0008

Endereço da Ler Editora/Libri Editorial: SIG (Setor de Indústrias Gráficas), Quadra 3, Lote 49, Bloco B, Loja 59 – Brasília/DF – CEP 70610-430


Quem mora em Brasília pode adquiri-lo na Estante dos Jornalistas-Escritores, instalada no hall de entrada do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF), no Setor de Indústrias Gráficas (SIG), Quadra 2, Lotes 420/440, Edifício City Offices, Cobertura.

A Biblioteca Pública Elcy Lacerda dispõe de alguns títulos do escritor macapaense Ray Cunha.



Veja entrevista de Ray Cunha ao programa Tirando de Letra, da UnB TV, sobre NA BOCA DO JACARÉ-AÇU:

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