sábado, 30 de novembro de 2019

CRÔNICA/Como o primeiro beijo

Se uma criança quer ficar triste, alegro-a, pois posso até voar! Sério!

A cidade pulsa ao calor. Há dias de vento forte, e chove. Assim é dezembro. Lemos, nas mentes das pessoas, que depositarão novamente todas as suas esperanças no primeiro dia do novo ano, pois isso já está assegurado, porque a vida renasce todos os instantes, para o que precisamos apenas ofertar rosas para a madrugada.

Dezembro traz toda a magia da vida, até para os que se julgam perdidos na noite dos danados; basta ouvir o riso dos pequeninos para que surja o sol nos jardins do mundo. Não importa quanto mal tenhamos praticado; quando sentimos o perdão, todas as correntes se partem e descobrimos que é fácil voar.

Abrirei, como sempre faço, meu relicário, e ofertarei todas as pedras preciosas que reuni em toda a minha vida, focos de luz que só vemos com o coração, esmeraldas, rubis, diamantes e silêncio.

Em dezembro, brota uma flor nos olhos da mulher amada, as manhãs são redentoras, as tardes escoam como rios amazônicos e as noites são navios grandes e bem iluminados.

Sou o apanhador no campo de centeio. Estou aqui, de vigília; as crianças brincam. Estou atento. Se a bola cai longe, vou apanhá-la e a devolvo para as crianças. Se uma delas se machuca, consolo-a, e quando sentem fome, alimento-as, e se alguma delas quer ficar triste, alegro-a, pois posso até voar.

E assim vão-se os dias, embalados pelo azul. O Natal bate à porta do meu coração, e virá o novo ano, em voo vertiginoso como o primeiro beijo. As madrugadas, as noites tórridas da Amazônia, o choro dos jasmineiros, o Atlântico, abrem-se na minha vida em veredas de zínias e rosas colombianas, vermelhas. E isso é tudo o que eu quero.

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